Memórias de Martha - Julia Lopes de Almeida (Resumo)

Memórias de Marta, romance que tem como centro do enredo um cortiço, é o primeiro romance publicado por Júlia Lopes de Almeida em 1888, um ano antes da publicação de O Cortiço de Aluísio Azevedo. Porém, Memórias de Marta somente veio à luz algumas décadas depois de ser ignorada pelos críticos e historiadores literários. 

Desde a época de sua publicação, primeiramente em folhetim e posteriormente compilado em livro, já havia a dificuldade em se obter a obra. Se pensada em termos de periodização e data de publicação se enquadraria no Realismo/Naturalismo, porém por se tratar de um romance de memórias há algumas peculiaridades que fogem ao padrão Realista. Como o próprio título já nos diz, o livro conta as memórias da protagonista Marta. 

É narrado em primeira pessoa e ela começa a contar suas memórias desde a infância até a idade em que se encontra no presente da narrativa. Quando criança ela perde o pai e com isso a mãe (que também se chama Marta) começa a trabalhar de engomadeira para sustentá-las, porém o dinheiro não é muito e elas se mudam para um cortiço.  Marta sente uma aversão muito grande a esse cortiço, porque é um lugar úmido, fétido (porque havia um matadouro próximo) onde sobrevoavam muitos urubus e, além disso, o quarto onde elas viviam era estreito, escuro e abafado. 

Ela almejava sair daquele cortiço, tanto pelo asco que ela sentia daquele lugar como pela humilhação da pobreza, e isso se torna possível a partir do momento em que ela entra para a escola e conhece a sua professora D. Aninha, que a incentiva muito aos estudos e à carreira de professora. Depois de algum tempo Marta se torna adjunta e recebe um salário, podendo então alugar uma pequena casa e sair do cortiço. 

Em uma época de férias que ela passa com a professora, se apaixona por Luis, primo de D. Aninha. Seguindo o pensamento de Sócrates que diz "Amar é procurar no outro aquilo que você não tem," Marta e Luis são totalmente opostos. Ele é vivaz, alegre, gosta de aventuras e Marta é triste, tímida, séria. Entretanto esse amor não é correspondido e ela acredita ser por causa da sua fealdade e pobreza. 

Enquanto ela estava nessas férias, ela escrevia cartas para a mãe e a mãe mostrava essas cartas para um cliente, Miranda,  que havia perdido a esposa e vivia sozinho com os filhos. De tanto ler as cartas e ouvir a mãe falando da filha, ele acaba se apaixonando por Marta, na verdade não pelo físico dela, mas pelo intelecto, pelos seus escritos. Ela participa de um concurso para professora e passa. Miranda a pede em casamento e num primeiro instante ela não aceita, porque ela não queria se casar sem amor e esse é o clímax da história, porque é a própria transgressão da imagem feminina. 

Uma mulher que tem a possibilidade de ser independente, porque ela já tinha um emprego, e não querer se casar por conveniência. A mãe insiste dizendo que "a reputação de uma mulher é essencialmente melindrosa. Como o cristal puro, o mínimo sopro a enturva..." Depois desse argumento da mãe, ela decide aceitar o casamento, mas especifica que seria "uma vingança para os ultrajes que a minha imaginação de moça recebera sempre". 

Depois de oito dias do casamento a mãe morre. Marta-mãe foi uma mulher muito forte porque nos últimos tempos não vivia, apenas suspendia a morte enquanto a filha precisava dela, depois que a filha já não precisava deixou-se cair do cansaço de todos os anos de trabalho duro. Como percebemos uma obra desse cunho escrita por uma mulher no final do século XIX foi inédita. 

A não aceitação do casamento foi uma transgressão às normas da sociedade daquela época, acho que a própria feiura de Marta foi uma transgressão porque na maioria dos romances, as mulheres são retratadas como belas, mesmo as que não tem tanta beleza tem algum atributo favorável, porém em Marta o atributo não era físico era intelectual. 

Júlia Lopes e Aluísio Azevedo eram amigos, talvez por isso haja semelhanças entre as obras, mas ao contrário de Aluísio, que resigna seus personagens totalmente ao seu meio sem possibilidade de se livrar da influência dele mesmo quando conseguem deixar esse espaço, Júlia não tem uma visão tão Naturalista, porque ela deixa claro no romance que apesar da influência do meio as pessoas podem melhorar através do estudo e do trabalho.

Fonte:
https://verbumlittera.blogspot.com/2012/04/resumo-da-obra-memorias-de-marta.html

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